Inquérito policial apura ameaças enviadas a Solange Freitas e a outras deputadas estaduais
Por Bruno Ribeiro/Folha Press e Santa Portal em 08/06/2025 às 12:00

A Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER) do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) instaurou um inquérito para investigar ameaças graves enviadas por e-mail institucional às 24 deputadas estaduais da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), incluindo a representante da Baixada Santista, Solange Freitas (União Brasil), no último dia 31. As mensagens, com conteúdo extremamente violento, citavam nominalmente algumas parlamentares e continham ameaças de estupro, assassinato e incineração, além de ofensas racistas e capacitistas.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) do Estado de São Paulo informou que diligências estão em andamento para esclarecer os fatos. “Demais detalhes serão preservados para garantir a autonomia das investigações”, afirmou a pasta.
Em resposta à ameaça, as deputadas articularam uma nota pública conjunta em que afirmavam que não seriam silenciadas. Solange Freitas complementou. “Não vão calar nossa voz. Eu sei o que é isso. Já ei por violência política de gênero em 2020 quando entrei pra política. Foram muitos ataques, inclusive um atentado. Não ao ódio. Não às ameaças”.
Solange tem histórico de ser alvo de violência política. Em 11 de novembro de 2020, durante sua campanha eleitoral em São Vicente, ela sofreu um atentado a tiros enquanto fazia agenda pública. Um homem em uma motocicleta branca efetuou quatro disparos contra seu carro, um deles na direção da cabeça. Ninguém ficou ferido. Pouco antes, seu comitê de campanha já havia sido invadido e incendiado por criminosos.
Investigação
A Alesp estuda adotar uma série de medidas de segurança após uma mensagem com ameaças ter sido enviada aos emails institucionais das deputadas da Casa. O autor do texto afirmou que iria “estuprar, matar e queimar” todas as 24 deputadas.
O texto detalhava o ataque, incluindo o modelo das armas que seriam usadas. Também direcionava parte das agressões a bandeiras defendidas pelas parlamentares, como a causa animal, além de conter ofensas racistas e capacitistas.
A mensagem estava assinada com o nome de um homem de 31 anos que se identifica como “masculinista” (suposto oposto ao feminismo), e incluía seu número de F. Ele afirmava ainda que o conteúdo estava “criptografado”.
A polícia apura a suspeita de que o caso envolva o que foi descrito às parlamentares como uma “briga de hackers”, e que a mensagem tenha sido enviada por uma terceira pessoa com o objetivo de incriminar o homem citado no texto.
Ele foi detido e ouvido pela polícia na segunda-feira (2), mas negou envolvimento no crime. O homem teve computador e celulares apreendidos. A polícia apurou que ele vinha provocando outro homem na internet. Uma das linhas de investigação é a de que esse terceiro possa ter sido o autor das ameaças.
Ainda no sábado, o homem identificado na mensagem postou em sua conta no Instagram um texto dizendo que seu nome estava sendo usado por criminosos.
As deputadas iniciaram a reação à mensagem ainda no fim de semana. Além de acionarem a polícia e a Presidência da Alesp, o grupo articulou uma nota pública conjunta em que afirmavam que não seriam silenciadas.
Treze parlamentares também apresentaram uma queixa-crime e pediram providências a dois órgãos da Polícia Civil. A operação que apreendeu o material com um dos suspeitos aconteceu logo após essa movimentação.
O presidente da Alesp, André do Prado (PL), recebeu uma comissão de deputadas na tarde desta terça-feira (3) para tratar do tema, acompanhado de representantes das polícias Civil e Militar.
A reunião foi suprapartidária e contou com a presença de nomes como Dani Alonso (PL), Ana Carolina Serra (Cidadania), Andrea Werner (PSB), Monica Seixas (PSOL), Beth Sahão (PT) e Leci Brandão (PC do B).
Além de apresentar o trabalho de investigação feito até o momento, Prado ofereceu um treinamento específico para reação a atentados. Os policiais solicitaram que as deputadas deixassem disponíveis os computadores em que receberam a mensagem, para eventual perícia.
As parlamentares pediram que fosse oferecida escolta policial àquelas que se sentirem ameaçadas. O argumento foi que, apesar das suspeitas preliminares apontarem para uma briga virtual, parte do grupo relatou ter ficado traumatizada com a violência da mensagem.